domingo, 12 de dezembro de 2010

Uma cidade grande, uma menina pequena


Há muito, muito tempo, quando os homens ainda falavam línguas muito diferentes das nossas, nos países quentes já existiam cidades grandes e magníficas. Nelas erguiam-se palácios de reis e imperadores, havia largas avenidas, ruelas e becos estreitos, templos suntuosos com estátuas de ouro e mármores, feiras nas quais se encontravam à venda mercadorias de todos os reinos, praças bonitas e espaçosas onde o povo se reunia para discutir as últimas notícias, ouvir ou fazer discursos. E nessas cidades havia, sobretudo, teatros.

Pareciam os circos de hoje, só que eram feitos de blocos de pedra. As fileiras de assentos para o público eram construídas uma acima da outra, como degraus de uma escada, formando uma espécie de imenso funil. Vistas de cima algumas dessas construções eram circulares, outras eram mais ovais e outras, ainda, tinham a forma de um amplo semi-círculo. Eram chamadas de anfiteatros.

Alguns eram grandes como estádios de futebol, outros eram menores, só podendo conter algumas centenas de espectadores. Alguns eram luxuosos, ornamentados com estátuas e colunatas, outros eram simples e modernos.

Esses anfiteatros não tinham teto, e tudo se passava ao ar livre. Por isso, nos de luxo eram estendidas tapeçarias bordadas em ouro, de modo a proteger o público contra o calor do sol ou as repentinas tempestades. Nos modestos, esteiras de palha ou vime tinham a mesma serventia. Em suma, cada um correspondia às possibilidades dos habitantes do lugar. Mas todos queriam ter um teatro, pois eram ouvintes e espectadores apaixonados.

Acompanhando os acontecimentos emocionantes ou cômicos representados no palco, as pessoas tinham a impressão de que, misteriosamente, aquela vida fictícia era mais real do que a sua própria vida cotidiana e adoravam mergulhar nessa outra realidade.

Passaram-se milhares de anos. As grandes cidades daquele tempo desmoronaram, os templos e palácios ruíram, o vento e a chuva, o calor e o frio desgastaram as pedras, e dos grandes anfiteatros só restaram ruínas. Agora, entre as pedras caídas, as cigarras cantam sua canção monótona, que soa como o respirar da terra adormecida.

Algumas dessas grandes cidades antigas, entretanto, continuam sendo grandes cidades nos dias de hoje. A vida nelas mudou, é claro! As pessoas andam de ônibus ou de automóvel, têm telefone e luz elétrica. Mas aqui e ali, entre as casas modernas, há algumas colunas, uma arcada, um pedaço de muro ou mesmo um anfiteatro daquele tempo antigo.

E foi numa dessas cidades que aconteceu a história de Momo.

Ende, Michel. Momo e o senhor do tempo, ou, A extraordinária história dos ladrões de tempo e da criança que trouxe de volta às pessoas o tempo roubado: um conto-romance. Tradução Monica Stahel. – São Paulo: Martins Fontes, 1995.



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