quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sinto-me inquieto


SINTO-ME INQUIETO, sedento de coisas longínquas, e minha alma voa com desejo de tocar a margem obscura da distância. Ó Imenso-Além, tua flauta me chama com insistência! Eu me esqueço, eu sempre me esqueço de que não tenho asas para voar; eu me esqueço de que estou eternamente preso neste minúsculo ponto.
Sinto-me ansioso e insone, como estrangeiro em terra estranha. Teu alento vem a mim, sussurrando uma esperança impossível, em linguagem que meu coração entende com sua. Ó Longínquo-Segredo, tua flauta me chama com insistência! E eu me esqueço, eu sempre me esqueço de que não conheço o caminho; eu me esqueço de que não tenho um cavalo com asas.

Sinto-me indiferente, peregrinando em meu próprio coração. Que imensa visão de ti se levanta no céu azul, em meio à ensolarada névoa das horas lânguidas! Ó Derradeiro-Fim, tua flauta me chama com insistência! E eu me esqueço, eu sempre me esqueço de que todas as portas da casa em que moro solitário sempre estão fechadas.

(Tagore, O jardineiro)

terça-feira, 12 de julho de 2011

Canções do beóis (Traduções de Tagore)

[Bamboo Flute by Green Pauper, Deviantart]

III
POR TEU ALENTO, eu me derramo em música, cheio de alegria e pesar.

A melodia me arrebata pela manhã e pela tarde, durante o inverno e no tempo das chuvas.

Cantar me enlouquece, e se eu me desfizesse todo em voo de canção, nada me pesaria tanto...


(TAGORE, Rabindranath. Poesia mística (Lírica Breve). São Paulo: Paulus, 2003.

O Universo tem um eixo central de rotação?

O Universo tem um eixo central de rotação?: "Ao contrário do que propõe a teoria atual, novos dados sugerem que o Universo pode ter nascido girando, em um movimento de rotação cósmico."

domingo, 10 de julho de 2011

Canções do beóis (Traduções de Tagore)


IV

Meu coração é uma flauta que ele soprou. Se alguma vez ela cair em outras mãos, que ele a tome de volta.

Meu amante ama a flauta de meu amor. Se outro sopro hoje nela entrou, fazendo-a soar notas estranhas, que ele a jogue no chão, em pedaços.
(TAGORE, Rabindranath. A fugitiva In Poesia mística (Lírica Breve). São Paulo: Paulus, 2003.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Oferenda lírica





Fizeste-me sem fim, pois esse é teu prazer. Esvazias continuamente este frágil vaso, e de novo sempre o enches de vida fresca.

Levaste por montes e vales esta pequena flauta de bambu, e nela sopraste melodias eternamente novas.

Ao toque imortal de tuas mãos, meu pequeno coração perde seus limites na alegria, e faz nascer inefáveis expressões.

Teus dons infinitos vêm a mim apenas sobre estas minhas tão pequenas mãos. Passa o tempo, continuas derramando, e sempre há lugar a preencher.

(TAGORE, Rabindranath. "Gitanjali" In Poesia mística. Tradução Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003.)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Rally de Hylux


São pouco mais de nove horas. Céu limpo, sol forte. Depois de um farto e saboroso café, risos e afagos na despedida. Bodas na véspera, bolo para o lanche. Finalmente, subimos na Hylux.
Seguimos por Juazeiro do Norte, tomamos o caminho do Crato onde verdes pastagens e formosos rebanhos compõem a paisagem...
Bucolismos à parte, é hora de apertar o cinto, pois a emoção aumenta (ou começa pra valer) quando enveredamos por uma trilha que leva a Cariús. A "moça" do GPS que não me deixa mentir: "Você está acima do limite de velocidade!" A 120 e 140 km/h.
Tem início o rally do sertão, senhoras e senhores. Estrada carroçal, só a piçarra, uma poça de lama no meio do caminho. Muitas curvas, buracos, poeira, muita poeira. Lá pelas tantas, uma motorista, talvez não tão perita quanto a nossa, vai parar numa grota com moto e tudo. Dois rapazes que vinham numa bicicleta auxiliam a miserável, ainda que entre risos...
Continuamos o nosso trajeto. Um caminhão escroto empata a vista, aumenta a poeira e obriga a motorista a desacelerar. Até que alcançamos o fim da estrada e, em pouco tempo, chegamos à casa de tia Creusa, cuja recepção caprichosa quase nos faz ficar mais um pouco.
Outra vez pegamos a estrada, dessa vez de asfalto, mas tão sinuosa e irregular, que quase desperdiçamos o almoço e a sobremesa: uma deliciosa torta de abacaxi...
Felizmente seguramos, só não deu pra segurar o xixi, de modo que improvisamos um banheiro à beira do caminho. Do colo da co-pilota, caem por terra as boas lembranças do dia anterior: a valsa dos noivos, a quadrilha improvisada, o belo e tentador irmão do noivo... E a máquina nem era dela...
Mais adiante, ainda na Estrada do Algodão, somos paradas por uma blitz. Pensamos: lá vem multa! Mas fomos tão simpáticas, portamo-nos tão bem, que os guardinhas nos deixaram passar...
Essa é a história de três solteiras na estrada de Fortaleza a Barbalha, convidadas para o casamento de um jovem e encantador casal, de Barbalha a Cariús e de Cariús a Fortaleza.
Salve, Santo Antônio, padroeiro de Barbalha! Salve, Pe. Cícero e o rally do sertão!