[Foto Moscow, de Daphotos]Sonata de Brahms. A eternidade e o efêmero. A sobriedade da pianista e o ímpeto do violino. O menino e a donzela.
Nesse instante de puro deleite, um acorde de alguém que dorme: sim, para perturbação dos presentes, um indivíduo emite sua incômoda percussão, em alto e (nada) bom som. Recostado no espaldar, cotovelo,mão e queixo pendidos; sem dar-se conta alcança a profundidade do sono e o indesejável sonido. A donzela à sua frente puxa-o pela perna da calça, temendo que aquele repertório particular e inusitado repercuta no palco, para desconcerto geral. Mas...
Eis que um acorde agudíssimo desperta nosso Adamastor. Desconcertado diante dos que lhe miram, pigarreia a baba que estava por escorrer, endireita-se na cadeira. Todavia, a música é tão suave... que, mais uma vez, embala o sonolento titã. Novas percussões. Mais brandas dessa vez.
Segue a sonata. A música evoca eras remotas, aproxima distâncias. Nem mesmo o imprevisto estranhamento sonoro põe fim à magia daquele momento. Ao lado da donzela dos trópicos, um menino dos Montes Urais. Sem partilharem o mesmo código linguístico, não precisam falar para comunicarem-se: olham-se e sorriem.
Último acorde. Cessa o bramido. Aplausos.
27 de julho de 2003
Ah, a Rússia... Eu nasci lá, só não sabia...
ResponderExcluirA tua cara de russo...
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